Cronologia
ANTES DOS PORTUGUESES - Diz uma lenda maubere que a ilha de Timor foi em tempos um crocodilo (a forma da ilha) que, à procura das terras onde nasce o sol, com um rapaz no seu dorso, se cansou e não conseguiu voltar. O seu corpo imobilizou-se e transformou-se em pedra e terra, crescendo até ficar uma grande ilha, com rios e florestas. O rapaz caminhou sobre a ilha, rodeou-a e chamou-lhe Timor (Oriente). Referenciada desde tempos remotos por viajantes e comerciantes orientais devido à sua riqueza em madeira de sândalo, chegou a constituir um reino independente antes da chegada dos europeus.
1512-1514 - É incerta a data da chegada dos portugueses a Timor, durante a expedição da armada do vice-rei da Índia, Afonso de Albuquerque (na gravura), que conquistou Malaca (1511) e as ilhas Molucas (1512-1515). Em 1524, os portugueses já tinham estabelecido boas relações comerciais com os reis locais e desenvolviam o tráfico da madeira de sândalo. Depois, conseguiram baptizar a rainha de Mena, que tomou o nome de Filomena e permitiu aos missionários, principalmente dominicanos, alargarem a sua influência. A primeira colónia portuguesa na ilha foi estabelecida em 1533, em Silabu.
1629 - Uma revolta liderada por Da Ornai expulsa os portugueses de Timor. Três anos depois, a ilha é reocupada com uma dura guerra. Em 1633, os holandeses conquistam as possessões portuguesas no arquipélago, excepto Timor Oriental. Um novo levantamento indígena, em que 2500 portugueses são decapitados, dá origem à «guerra dos cem anos». Na segunda metade do século XVII, aventureiros e comerciantes portugueses e mestiços instituem um «Império» autónomo que paga uma renda anual à Coroa de Portugal.
Século XIX - A partir do início das lutas liberais em Portugal, Timor cai num progressivo estado de abandono, devido à falta de missionários e à concorrência comercial holandesa. Em 1850, Timor torna-se uma província portuguesa autónoma da de Macau, com governador próprio. Com as exportações de sândalo para a China em declínio devido à concorrência britânica, em meados do século são introduzidas no território as plantações de café, que desde então se torna a principal exportação.
1895-1912 - A mais célebre das rebeliões contra o domínio português durou 17 anos, com massacres de parte a parte, e foi liderada por Dom Boaventura de Manufahi, um «liurai» (régulo) local. A partir dos anos 30, Salazar incrementou a utilização de Timor como local de degredo de oposicionistas. Na manutenção da ordem tinham papel importante as milícias de «moradores» (na foto), armadas pelas autoridades portuguesas.
Ocupação japonesa - Em Dezembro de 1941, em plena II Guerra Mundial, forças australianas e holandesas desembarcam em Timor-Leste à revelia do Governo português, tentando criar uma «zona-tampão». Salazar qualifica o acto de «invasão». Em Fevereiro de 1942, o território é bombardeado e ocupado pelo exército japonês, que nos três anos seguintes provoca a morte de pelo menos 50 mil timorenses. No fim da guerra, a ilha de Timor é colocada sob controlo administrativo da Austrália, que depois a devolve aos poderes coloniais da Holanda e de Portugal (na foto, Dom Aleixo Corte Real, «liurai» do distrito de Ai-Naru, que teve um papel destacado na organização da resistência contra os japoneses, mas morreu antes do fim da guerra).
1945-1975 - A República da Indonésia nasce em 1945, com as fronteiras herdadas do colonialismo holandês, e não reivindica Timor-Leste como território seu. Em 1966, Suharto e os militares tomam o poder em Jacarta a pretexto de conter um golpe comunista e massacram 500 mil opositores. Em Timor-Leste, estalam em 1959 revoltas contra o domínio português, duramente esmagadas. A revolução de 25 de Abril de 1974 em Portugal inicia a descolonização. Nascem em Timor-Leste partidos políticos, alguns dos quais advogam a integração na Indonésia. As divergências entre timorenses degeneram em meses de confrontos armados. No dia 26 de Agosto de 1975, declarando a situação incontrolável, o governador Lemos Pires retira a administração para a ilha de Atauro, assim encerrando 450 anos de presença colonial (na foto, as últimas forças portuguesas no território).
28 de Novembro de 1975 - Num ambiente de guerra civil que alastra por todo o território e enquanto se multiplicam as ameaças de intervenção indonésia, a Fretilin, liderada por Nicolau Lobato, expulsa de Díli os rivais da UDT e Apodeti e proclama unilateralmente a República Democrática de Timor-Leste, tendo como Presidente Francisco Xavier do Amaral (na foto, a cerimónia de proclamação da independência).
7 de Dezembro de 1975 - Tropas indonésias desembarcam em Díli e, nos dias seguintes, atravessam a fronteira e ocupam todo o território. Ignorando resoluções da ONU que condenam a invasão, a Indonésia proclama, em Julho de 1976, a anexação de Timor-Leste como sua 27ª província. Nos anos seguintes, estima-se que morrem 200 mil timorenses em resultado de uma política de genocídio e assimilação forçada.
1981 - Xanana (José Alexandre) Gusmão é eleito líder da Resistência timorense, culminando um processo de reagrupamento de forças. Em 1987, as Falintil são despartidarizadas e no ano seguinte é criado o Conselho Nacional da Resistência Maubere. A Indonésia inicia a política de «transmigração», instalando em Timor-Leste habitantes de outras ilhas. Em 1989, durante a visita do Papa a Díli, manifestações pela independência são reprimidas. A Austrália e a Indonésia assinam um acordo para exploração do petróleo no mar de Timor.
12 de Novembro de 1991 - O massacre no cemitério de Santa Cruz, em Díli, em que as tropas indonésias assassinam centenas de timorenses, é testemunhado por jornalistas estrangeiros e dá origem à maior campanha de denúncia mundial do genocídio contra o povo de Timor-Leste. Em Novembro de 1992, Xanana Gusmão é capturado, em Díli, por tropas indonésias. Julgado em Maio do ano seguinte, é condenado a prisão perpétua. O Presidente Suharto reduz a pena para 20 anos de prisão.
Junho de 1995 - Realiza-se na Áustria o primeiro encontro intratimorense, sob os auspícios da ONU, reunindo líderes pró-independência e pró-Indonésia, para auscultação de opiniões sobre o futuro do território. Enquanto se multiplicam os contactos diplomáticos, a Indonésia desenvolve a estratégia de contraguerrilha territorial tentando aniquilar as unidades das Falintil que resistem nas montanhas.
10 de Dezembro de 1996 - O bispo Ximenes Belo e José Ramos-Horta recebem, em Oslo, o Prémio Nobel da Paz. A cerimónia, em que participam o Presidente da República de Portugal e chefes de Estado e de Governo dos PALOP e do Brasil, transforma-se em mais uma chamada de atenção do mundo para a violação dos direitos humanos em Timor-Leste. D. Ximenes Belo é acolhido em triunfo no regresso a Díli. Ao longo de 1997, a comissão de Direitos Humanos da ONU aprova uma resolução condenando Jacarta, e a Indonésia reforça o seu dispositivo militar em Timor-Leste.
Abril de 1998 - A Convenção Nacional Timorense na Diáspora, realizada em Portugal, reúne pela primeira vez todas as sensibilidades políticas opostas à Indonésia e aprova uma Carta Magna que estabelece os contornos do futuro Estado independente. É criado o Conselho Nacional da Resistência Timorense e Xanana Gusmão é aclamado seu líder (na foto, os membros do CNRT, excepto os que estavam na clandestinidade).
1998-1999 - Em Maio de 1998, Suharto é forçado a demitir-se depois de meses de revolta popular ateada pela profunda crise económica. O novo Presidente indonésio, Iussuf Habibie, lança reformas democráticas. Em Janeiro de 1999, Portugal e a Indonésia abrem secções de interesses nas duas capitais. Em 5 de Maio, os ministros Jaime Gama e Ali Alatas e o secretário-geral da ONU, Kofi Annan (na foto), assinam um acordo para a realização de um referendo de autodeterminação em Timor-Leste, sob a égide das Nações Unidas.
30 de Agosto de 1999 - 98,6% dos recenseados votam no referendo de autodeterminação, apesar do terrorismo desencadeado nas semanas anteriores pelas milícias pró-indonésias. O resultado, anunciado às 9h (hora de Díli) de 4 de Setembro, é uma esmagadora vitória da independência, com 78,5% dos votos. As milícias e o exército indonésio lançam imediatamente uma campanha de assassínios, deportações em massa, pilhagens e incêndios, forçando a população a refugiar-se nas montanhas e obrigando a ONU a deixar Díli. 11 de Setembro - Manhã - Indonésia aceita o envio de ajuda humanitária aos refugiados. A delegação do Conselho de Segurança da ONU encontra, à chegada a Díli, uma cidade destruída e centenas de pessoas acampadas na rua. Austrália, Nova Zelândia, Malásia, Canadá, Portugal e Reino Unido disponibilizam-se para integrar uma força de capacetes-azuis.
17h30 - Grã-Bretanha suspende venda de aviões à Indonésia. Em Jacarta, João Carrascalão afirma que soldados indonésios estão a queimar povoações na ponta oriental de Timor.
DOMINGO, 12 de Setembro - 13h00 horas - Habibie autoriza o envio de uma força multinacional da ONU.
16h00 - Mais de sete mil portugueses participam numa manifestação realizada frente à embaixada da Indonésia em Madrid. Milícias atacam cerca de 30 mil refugiados escondidos em Dare, a 10 km de Díli. A alta-comissária da ONU para os Refugiados, Mary Robinson, volta a defender a criação de um tribunal internacional que julgue as violações dos direitos humanos em Timor-Leste.
Segunda-feira, 13 de Setembro - 3h00 - Os países da ASEAN concordam em apoiar uma força de intervenção da ONU.
4h00 - O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados monta um armazém em Darwin que guarda bens de primeira necessidade e medicamentos, para serem enviados para Timor. Ramos-Horta reúne-se com o presidente Clinton, em Auckland.
9h00 - D. Ximenes Belo parte de Lisboa rumo à Santa Sé para relatar ao Papa o sofrimento do povo de Timor.
9h30 - Malásia, Filipinas, Cambodja, Tailândia e Bangladesh anunciam disponibilidade para integrar a força da ONU.
10h00 - A alta-comissária das Nações Unidas para os Refugiados afirma que a Indonésia tem de ser responsabilizada pelas atrocidades cometidas e anuncia que Habibie aceita uma comissão para investigar as queixas contra as tropas indonésias.
17h00 - Indonésia afirma não aceitar presença da Austrália na força multinacional. Em Timor - UNAMET está reduzida a 30 elementos.
Terça-feira, 14 de Setembro - Ximenes Belo dá conferência de imprensa em Roma, depois de audiência com o Papa. Indonésia aceita que Austrália lidere força multinacional. Reuniões diplomáticas e militares sucedem-se em Nova Iorque. Inglaterra concede 900 mil contos de ajuda humanitária a Timor. Em Lisboa - Parte um Antonov para Darwin com alimentos, medicamentos e pessoal médico. Sousa Franco, ministro das Finanças, anuncia não haver limite nas disponibilidades orçamentais para Timor. Em Timor - Cinco crianças morrem de fome. As instalações da UNAMET são incendiadas depois da saída dos últimos elementos das forças das Nações Unidas. Com eles partem para Darwin 1500 timorenses refugiados na sede da ONU. Um jornalista norte-americano é deportado. Nas montanhas, refugiados morrem de fome.
15 de Setembro de 1999 - Depois de duas semanas de hesitações diplomáticas enquanto as imagens da nova catástrofe em Timor correm mundo, a ONU aprova o envio para o território de uma força multinacional dotada de autoridade para restabelecer a paz por todos os meios. No dia 17 de Setembro, inicia-se o lançamento de alimentos para as centenas de milhares de pessoas abrigadas nas montanhas do interior, enquanto quase 200 mil timorenses estão em campos de deportados na parte indonésia da ilha. O futuro Estado de Timor Loro Sae (Sol Nascente) aguarda o regresso de Xanana Gusmão, libertado no dia 7 de Setembro.
O Conselho de Segurança aprova, em Nova Iorque, a criação de uma força multinacional «para restaurar a paz e a segurança» em Timor. Moçambique manifesta vontade de integrar a força de intervenção da ONU.
Jaime Gama anuncia que Portugal não participará com nenhuma unidade de combate da força multinacional, embora vá ter no terreno e na Austrália missões de ligação. No final da reunião tripartida Indonésia-Portugal-ONU, Gama adiantou que o papel de Portugal será o de preparar no terreno a aplicação dos resultados do referendo.
Jusuf Habibie afirma que os militares indonésios terão apenas o papel de conselheiros e de ligação junto da força internacional.
O Comité Internacional da Cruz Vermelha está preparado para enviar para Timor-Leste uma equipa de 23 pessoas, no âmbito de uma operação humanitária de grande escala. O novo presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi, compromete-se a apoiar a reconstrução e o desenvolvimento de Timor-Leste.
Em Jacarta há confrontos entre manifestantes a favor e contra a entrada das força da ONU.
20h20 - A SIC apresenta duas gravações (uma de 28 de Agosto e outra de 4 de Setembro, antes da divulgação do resultado da votação) entre responsáveis militares em Díli e as milícias, que provam que ambas as forças preparavam em conjunto atacar as Falintil, controlar o território e exterminar a população.
Padres jesuítas relatam bombardeamentos às montanhas, onde se encontram escondidos milhares de timorenses. Nas montanhas, a fome e a falta de medicamentos continuam a matar.
Em Darwin, aumenta a movimentação de navios de guerra, aviões e camiões com tropas.
Quinta-feira, 16 de Setembro - Indonésia rasga acordo de segurança com Austrália. Três timorenses são assassinados nas suas casas, em Jacarta, por homens vestidos de preto.
A Austrália adia o envio de bens de primeira necessidade para os refugiados timorenses que se encontram nas montanhas de Timor e anuncia que as primeiras tropas da força multinacional chegarão no domingo ou na segunda-feira.
Sexta-feira, 17 de Setembro - As primeiras 40 toneladas de bens de primeira necessidade e cobertores são lançados de aviões sobre Timor Loro Sae. Continuam os tiros disparados por militares e milícias. Austrália adverte a Indonésia sobre eventual ataque dos militares contra os capacetes-azuis.