Milícias e grupos paramilitares armados pela Indonésia
.Resumo:
Contexto:
Os factos:
GENERAL WIRANTO, chefe do Estado Maior das F.A. indonésias e Ministro da Defesa:
· "Não temos dado armas às pessoas. De facto, as organizações que foram ajudadas
no passado pelas F.A. para manter a paz foram abolidas e as suas armas confiscadas".
Mas unidades paramilitares locais que ajudam as ABRI a manter a paz foram armadas:
"Estas unidades existem há muito tempo para ajudar os comandos militares de distrito
a manter a segurança, não exercem pressão sobre os grupos pró ou
anti-integração" (Reuters, Jacarta, 2-2-99).
· "As ABRI nunca deram armas aos civis mas dissolveram grupos de milicianos locais
como os Saka e Makiki". Estas milícias foram formadas nos comandos de distritos
militares e ajudam à segurança. Foram formadas legalmente e são armadas com velhos
modelos de espingardas. "Não é por razões políticas e não é para exercer
pressão sobre as pessoas. Mas unicamente para ajudar as ABRI a fazer face aos grupos
perturbadores da segurança (GPK)" (Antara, 2-2-99). [GPK é o nome habitualmente
dado pelas autoridades à resistência armada timorense].
GENERAL SUBAGYO
· A principal tarefa das milícias chamadas "wanra" é de "manter a paz e
a ordem". As milícias "têm ajudado as F.A. a tomar conta dos grupos que causam
problemas". Os wanra são armados pelo exército indonésio e
supervisionados pelo comando de distrito em Dili. Questionado sobre a estratégia de criar
grupos armados e se isso pode levar à guerra civil em Timor Leste, Subagyo respondeu que
as F.A. "controlam a situação e podem mais tarde decidir se continuam a distribuir
armas ou se desarmam as milícias" (Lusa, Sidney, 1-2-99).
GENERAL SUDJARAT porta-voz das F.A. em Jacarta.
· (confirma a entrega de armas aos civis; os militares controlam as armas e vão
recuperá-las "após terem terminado a sua tarefa"). (ver entrevista em anexo:
BBC, Londres, 5-2-99)
MAJOR GENERAL SYAMSUL MAARIF, chefe do centro de informação da Defesa.
· As ABRI têm dado armas a civis "mas somente com caracter temporário", o que
visava levar os civis a proteger-se a si próprios dos grupos perturbadores (Jakarta Post,
2-2-99).
MAJOR GENERAL ADAM DAMIRI, chefe do comando militar regional em Bali.
· Damiri disse que o objectivo era de armar recrutas civis escolhidos para as áreas que
foram frequentemente atacadas pelos rebeldes, segundo a Antara. Ele negou as alegações
de que as armas eram entregues para impor a integração. No Sábado, disse, as F.A.
recrutaram 1.000 homens com idades compreendidas entre 17 e 35 anos, no conturbado
território (AP, Jacarta, 7-2-99).
TENENTE CORONEL SUHARTONO SURATMAN, comandante militar de Timor Leste
· 250 dos 1.000 membros previstos para uma força paramilitar -Kamra- foram recrutados em
Timor Leste. Os recrutas vêm dos 13 distritos e têm a instrução primária. Serão
colocados em todas as áreas da província para manter a ordem... Os recrutas vão ser
colocados com a polícia nas aldeias isoladas consideradas com riscos para a segurança. O
pessoal paramilitar será armado com bastões, não com armas de fogo.
Quanto aos jovens recrutados e armados com armas de fogo para ajudar as forças armadas
desde que Timor Leste foi anexado, Suratman disse que alguns deles foram retirados e
alguns ainda se encontram ao serviço e vão ser desactivados quando a situação em Timor
Leste estiver estabilizada. Estes grupos de jovens armados (pró- integração) têm nomes
como Malinkundang, Gadapaksi, Halilintar e Makikit (Kompas, 26-1-99).
· declarou ter planos para armar civis nas 440 aldeias [sucos] de Timor
Leste: "quero equipar estes voluntários com armas para proteger as aldeias contra os
ataques dos rebeldes", mas não quis especificar com que tipo de armas (AP, Dili,
5-12-98).
· 5 a 10 pessoas nas pequenas aldeias rurais vão ser armadas com bastões e fundas e
treinados por forças militares regulares indonésias para lutar contra as forças
pró-independência, Fretilin, disse. "Se eles usarem outras armas (como facas e
armas de fogo) isso será por sua própria iniciativa", e insistiu que os militares
não lhes dariam armas de fogo (Sidney Morning Herald, 8-12-98).
· 1.000 membros da nova milícia em Timor Leste começaram na Segunda-feira duas semanas de treino dado por militares indonésios, quando a tensão entre apoiantes e opositores da independência está a aumentar. O coronel Suratman foi citado pelo Jakarta Post como dizendo que os wanra iam começar a treinar... disse que os recrutas iam ter um contrato de um ano e o salário mensal de 200.000 rupias (24 US$ / 21 euros). "Não é verdade que a milícia seja formada para lutar contra os grupos anti-integração. Vamos armá-los com bastões para ajudar a manter Timor Leste seguro, não para combater" (AFP, Jacarta, 8-2-99).
TENENTE CORONEL SUPADI, segundo-comandante militar de Timor Leste.
· Interrogado sobre as mortes de civis perto de Suai, negou que as ABRI estivessem
envolvidas na disputa em Suai, mas admitiu que as ABRI tenham dado armas à milícia, em
número de cerca de 1.200, dizendo que eram espingardas capturadas à resistência armada
Fretilin e também espingardas SP1 e SP2 que eram, até recentemente, usadas pelos
militares indonésios.
"Se não lhes damos armas, haverá mais mortes do nosso lado" disse Supadi por
telefone à AAP a partir de Dili. "É melhor que as vitimas estejam do lado
deles", "Os conflitos entre eles (pró e anti-integração) vão continuar até
que o problema de Timor Leste seja resolvido". O coronel Supadi admitiu que as duas
semanas de treino dadas às milícias eram inadequadas: "eles estão apressados
porque são emocionais" disse o coronel, que negou todavia que as ABRI estivessem a
provocar a guerra civil (AAP, Jacarta, 27-1-99).
· Após décadas de combates, muitos timorenses têm vontade de vingar as perdas de
familiares, disse Supadi. "Xanana, se for libertado, logo que chegar a Dili, pode ser
morto. Há pessoas cujos familiares foram mortos por causa de Xanana. Há muitas pessoas
que têm desejos de vingança contra Xanana". Mas Supadi admitiu que os militares
estão a recrutar e armar milícias para apoiar a integração (Asia Pulse, 1-2-99).
CÂNCIO LOPES, chefe do grupo paramilitar MAHIDIN ("morto ou vivo com a
Indonésia")
· (Falando em Bahasa indonésio) "Recebemos 20 Sks [espingardas de origem chinesa?]
dos militares locais [Ainaro]. Foi em 30 de Dezembro. Lembro-me porque foi no dia 17 deste
mês que Mahidin foi constituído. Usamos as SKs e três M-16 para o ataque".
[Johnathan Head que recolheu este depoimento assinala que seis pessoas foram mortas neste
ataque perto de Zumalai, no distrito de Suai, incluindo um aluno da escola de 15 anos e
uma mulher grávida] (BBC 5-2-99).
SOENARKO, chefe dos Badan Administrasi Kepegawaian Negara - BAKN
(serviços de emprego).
· "É razoável assumir que os naturais (timorenses) são 80 % do total dos
funcionários públicos em Timor Leste, isto é, 56.000 pessoas. Se acrescentarmos a estes
56.000 funcionários os 20.000 civis recrutados pela polícia e os militares para ajudar
como guardas de segurança (as milícias), o número de timorenses que
trabalham para o Governo indonésio é de 76.000 pessoas" (Suara Pembaruan, 5-2-99).
· Xanana Gusmão, presidente do Conselho Nacional da Resistência Timorense,
respondeu às perguntas duma rádio portuguesa (RDP, 12-2-99):
P. Aceita o desarmamento simultâneo das milícias pró-indonésias e da guerrilha
pró-independência?
R. Não lhes chamo milícias pró-indonésias. Para mim as milícias
pró-indonésias não são as forças que nos últimos 23 anos lutaram contra as Falintil
. As milícias pró-indonésias são simplesmente o que vocês chamam esquadrões da
morte, que intimidam, semeiam o terror e matam a população. Sobre isto não aceito
compromissos. Devem ser desarmados imediatamente.
P. E os querrilheiros pró-independência, numa fase seguinte?
R. Aceito que nas negociações para um cessar-fogo possam participar os
paramilitares que foram utilizados pelas forças ocupantes para fazer a guerra contra as
Falintil. Aceitamos que os paramilitares e os soldados indonésios, os batalhões que
normalmente chamamos ABRI, possam negociar com as Falintil. Masquanto às milícias
pedimos o seu desarmamento imediato e total.
Conclusões: