Curso de Liderança/Lamego 1998
![]() In "Divulgação" nº75 Out/Nov/Dez 98
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Academia Militar forma alunos finalistas
da Universidade do Minho
Foi em Abril de 1998, no decorrer das jornadas de informática, que o director
do departamento de informática da Escola de Engenharia da Universidade do
Minho(UM), fez o anúncio público do Curso de Liderança que iria decorrer no mês
de Setembro leccionado pela Academia Militar (AM). A notícia já circulava há
algum tempo pelos corredores da UM, mas mesmo assim a admiração foi geral no
auditório onde muitos ouviam quase incrédulos o anúncio; questionando o porquê
da escolha da AM para formar alunos da UM na área da liderança. A iniciativa
era completamente inovadora nada de semelhante havia acontecido até então a nível
nacional. À medida que surgiam as dúvidas vinham as respostas proferidas pelo
Professor Luís Amaral que justificava a escolha da AM porque quem mais e melhor
estaria habilitado a dar noções de comando e de liderança se não o Exército?
E porque não procurar alguém do exterior para formar os alunos a um nível
mais especializado que aquele que poderá ser conseguido com a "prata da
casa", possibilitando assim o alargamento dos horizontes dos possíveis
alunos candidatos. Afinal a iniciativa já não era nova no departamento, desde
o início do ano lectivo que empresas nacionais e multinacionais colaboravam
directamente na formação dos alunos finalistas. Mas mesmo depois do discurso
ter terminado, o murmurinho continuava. Representantes de outras Universidades e
Institutos Politécnicos, apanhados de surpresa, mal conseguiam disfarçar o
espanto, e nós os alunos, possíveis
beneficiários da iniciativa olhávamos uns para os outros à espera de uma reacção,
uns predispuseram-se logo a inscrever-se, outros ficaram mais reticentes ou
porque tinham uma certa aversão às Forças Armadas: "O quê? Eu ir para a
AM? Se. eu gostasse de fardas tinha ido à tropa! Vou lá querer agora ir tirar
um Curso de Liderança, ainda por cima na época de exames de Setembro?",
ou porque não se identificavam nada com o objecto do curso: "Curso de
Liderança? Para mandar já cá há muitos, para trabalhar
é que são precisos mais. Eu cá não preciso de tirar um curso para mandar em
ninguém!".
Findo o prazo de inscrição a lista dos 20 seleccionados e restantes suplentes
foi afixada, no final de Julho. E no dia 8 de Setembro estávamos todos às 8HOO
da manhã concentrados no pátio da UM. Ninguém sabia ao certo como seria ministrado
o curso, tinhamos tido conhecimento das matérias que abordaríamos, também tinhamos
recebido indicações de como decorreria o curso, desde fogo nos fizeram saber
que não iríamos para a "tropa", que seriamos bem acolhidos e que de
nós só esperavam até onde quiséssemos chegar; mas todos tínhamos uma tendência
natural para associar a AM à tropa, e já nos estávamos a ver ao cabo de
algumas horas instalado em camaratas com dezenas de beliches, com a farda pronta
a vestir e um militar à porta a controlar o tempo. É talvez uma imagem
exagerada mas uns mais, outros menos era assim que esperávamos o Curso de
Liderança. Houve mesmo alguém que às portas de Lamego anunciou uma possível
"evasão" caso não se estivesse a dar nada bem com aquele ambiente.
Nenhum dos nossos "receios" se veio a confirmar. A imagem que o exército
tem na maioria da população portuguesa, da qual também partilhávamos, caiu
completamente no decorrer das três semanas que durou o curso,
do qual nenhum de nós saiu indiferente; se à partida não sabíamos qual a
mais valia que nos iria proporcionar, para além de poder constar no currículo,
no final todos éramos unânimes em reconhecer a importância pessoal da
participação no curso. Invadia-nos a sensação de alegria e de gratidão por
termos alcançado um objectivo proposto num curto espaço de tempo por uma
"equipa de profissionais" da AM e do CIOE de Lamego, que nós
"desconfiamos" ter sido escolhida a dedo ou então há mesmo qualquer
coisa muito errada na imagem que o Exército deixa passar dos seus militares
para a sociedade civil!
E a prova disso foi que ao longo .do curso fomos conduzidos por oficiais com
grande valor profissional e humano nas mais variadas áreas dentro da estrutura
do plano de curso. Tecido como "espinha dorsal" as aulas de Liderança,
exploramos um amplo universo das Relações Internacionais e Estratégia;
obtivemos um conhecimento mais aprofundado ao nível da interpretação de
cartas topográficas e de navegação no terreno com o auxílio das mesmas;
foi-nos dada a oportunidade de por à prova a nossa capacidade de resposta em
situações de risco e de stress, através da análise de hipotéticos casos,
para os quais num espaço de tempo limitado tínhamos de encontrar solução; na
mesma óptica mas de uma forma prática pudemos testar a nossa capacidade de
liderar uma equipa na transposição de obstáculos atendendo a um certo número
de restrições que condicionavam as nossas decisões, aqui para além do teste
às capacidades de liderança que referi também pudemos de uma forma mais
subtil testar a nossa capacidade qe ser liderados visto que todos os elementos
da equipa eram "destacados" para serem líderes em provas diferentes,
possibilitando-nos, desse modo, aprender com os erros dos outros através da análise
feita no final ao modo como tinha decorrido a prova; pelo meio realizamos alguns
exercícios "radicais" e tivemos noções de adaptação ao meio
ambiente, testadas na prova de confirmação final na qual participaram os
"nossos colegas" cadetes que já tinham concluído o curso na UM, com
os quais através do protocolo assinado pela AM e UM havíamos
"trocado de lugar", para no final nos associarmos em quatro equipas
mistas (cadetes e universitários) com o intuito de reunirmos esforços para
cumprirmos as três etapas da prova de confirmação que decorreu durante dois
dias. A prova correu bem e no final foram muitas as amizades que se fizeram
resultantes da partilha da experiência e da luta por um objectivo comum.
Às mais valias proporcionadas pelo cumprimento das actividades descritas,
acrescentamos ainda as mais valias retiradas da convivência com os militares
que ao longo das três semanas foram incansáveis no sentido de assegurar o
correcto cumprimento do plano de curso ao mesmo tempo que se mostravam atentos e
preocupados com a nossa evolução e receptividade.
Decorridos que estão dois meses após o termino do curso todos nós, sem excepção,
guardamos na memória o exemplo e o conhecimento transmitidos pelos
profissionais da AM e a amizade dos nossos colegas cadetes, resultante da experiência
vivida, sempre envolta num ambiente de boa disposição que a torna para sempre
inesquecível sob o ponto de vista pessoal e de formação profissional.
Luzia Valentim
5º ano Informática de Gestão
Universidade do Minho, Aluna do 1º Curso de Liderança