Técnicas de modulação
Adriano J. C. Moreira, Fevereiro de 1999
O
processo de modulação consiste numa operação realizada sobre o sinal ou dados a
transmitir e que produz um sinal apropriado para a transmissão sobre o meio de
transmissão em causa. A escolha da técnica de modulação permite “moldar” as
caracteríticas do sinal a transmitir e adaptá-lo às características do canal.
Entre
outros aspectos, a operação de modulação permite: (i) deslocar o espectro do
sinal a transmitir para a banda de frequências mais apropriada/disponível; (ii)
produzir um sinal modulado com um espectro mais estreito (ou mais largo) que o
sinal original; (iii) tornar o sistema de transmissão mais robusto
relativamente a algum tipo de ruído e/ou interferência; (iv) adaptar a
sensibilidade do receptor às características do canal.
As
técnicas de transmissão dividem-se em dois grandes grupos: as técnicas
destinadas à transmissão de sinais analógicos e as técnicas destinadas à
transmissão de dados digitais. Nos dois grupos a transmissão pode ser efectuada
em banda base ou com recurso a portadoras (eléctricas ou ópticas). No entanto,
a transmissão de sinais analógicos em banda base está, normalmente, limitada a
sistemas de transmissão a muito curtas distâncias, uma vez que esta solução é
muito pouco imune aos efeitos do ruído e interferência. Um exemplo da
utilização desta solução é o da transmissão de voz entre os telefones e as
centrais da rede telefónica convencional.
Transmissão analógica
A
transmissão de sinais analógicos recorrendo a técnicas baseadas na modulação de
portadoras é muito utilizada na difusão de som (radiodifusão) e sinais de
televisão. As duas principais técnicas são a modulação de amplitude (AM) e a
modulação de frequência (FM).
AM – Amplitude Modulation
Nesta
técnica, o sinal a transmitir, s(t),
é veiculado na amplitude de uma portadora de frequência fp, que pode ser eléctrica, electromagnética ou óptica, isto é, a
amplitude da portadora varia de forma directamente proporcional à amplitude do
sinal a transmitir. O sinal modulado, sm(t),é
descrito por:
onde
K é uma constante adicionada ao sinal
a transmitir por forma a que a amplitude da portadora nunca seja negativa e A é a amplitude da portadora. A Figura 1
mostra um sinal modulado em AM.
Figura 1. Modulação em Amplitude (AM)
No
domínio da frequência, o processo de modulação corresponde a convoluir o
espectro do sinal a transmitir com um Delta de Dirac à frequência da portadora.
Assim, o espectro do sinal modulado ocupa duas vezes mais largura de banda que
o mesmo sinal em banda base. Uma vez que o espectro é simétrico relativamente à
frequência da portadora, é possível aumentar a eficiência espectral através da
eliminação de um dos lobos do espectro antes de se proceder à transmissão do
sinal.
Os
sinais modulados em AM são muito sensíveis ao ruído e interferência aditivos,
uma vez que a informação é transportada pela amplitude da portadora.
FM – Frequency Modulation
A modulação em frequência consiste em fazer variar a frequência de uma portadora de forma directamente proporcional à amplitude do sinal a transmitir. O sinal modulado, sm(t), pode ser representado por:
onde A representa a amplitude da portadora, fp é a frequência da portadora e m é o índice de modulação. O índice de modulação determina a amplitude da variação da frequência do sinal modulado. Quanto maior for o índice de modulação, maior será a variação de frequência para o mesmo sinal a transmitir e mais largo será o espectro do sinal modulado. A Figura 2 mostra um sinal modulado em FM.
Figura 2. Modulação em Frequência (FM).
O
espectro de um sinal modulado em FM não é simétrico em torno da frequência da
portadora, pelo que não é possível eliminar um dos lobos tal como no caso dos
sinais AM. Assim, o espectro de um sinal modulado em FM é mais largo que o
espectro do sinal AM equivalente.
Os
sinais modulados em FM são mais imunes ao ruído e à interferência aditivos que
os sinais AM, uma vez que a informação é transportada pela frequência
instantânea do sinal modulado e não pela amplitude da portadora. Assim, os
sistemas de transmissão em que é necessária uma maior qualidade do sinal
(relação sinal-ruído) é utilizada normalmente a modulação em frequência.
Transmissão digital
Nos
sistemas de transmissão digital, os sinais podem ser transmitidos utilizando
técnicas de modulação em banda base ou técnicas baseadas em portadoras. Em qualquer
dos casos a transmissão pode ser binária ou multi-nível.
Nos
sistemas de transmissão digital, a qualidade da transmissão é medida através da
probabilidade de erro de bit, isto é, da probabilidade de, uma vez transmitido
um bit, este seja interpretado pelo receptor de forma errada. Os valores
típicos da probabilidade de erro de bit vão de 10-4 a 10-9.
Transmissão binária e multi-nível
Nos
sistemas de transmissão digital, a informação a transmitir está normalmente
representada por um conjunto, ou sequência, de bits (informação binária). O
objectivo do sistema de transmissão é transmitir esses bits. Quando cada um dos
bits é transmitido isoladamente, isto é, através da transmissão de um símbolo
por cada bit, diz-se que estamos em presença de transmissão binária. Quando, ao
contrário, os bits são agrupados em palavras binárias e transmitidos
utilizando-se um símbolo por cada palavra, diz-se que estamos em presença de
transmissão multi-nível. Em transmissão binária, o sistema de transmissão
transmite sequencialmente um de dois símbolos que representa um dos dois bits
(0 ou 1). Em transmissão multi-nível, o sistema de transmissão transmite
sequencialmente um dos N símbolos
necessários para representar as N
palavras, sendo N dado por:
Exemplo: para transmitir uma
sequência de palavras binárias com 3 bits de comprimento são necessários 23=8
símbolos diferentes.
A
utilização de transmissão multi-nível permite obter um balanço entre a largura
de banda ocupada pelo sinal modulado e a potência que é necessário transmitir
para que se obtenha uma dada probabilidade de erro.
Transmissão em banda base
OOK – On-Off-Keying
A
modulação OOK é uma técnica binária e utiliza dois símbolos para representar os
bits 0 e 1. Os dois símbolos consistem em duas amplitudes de uma grandeza
física tal como a corrente ou a tensão de um sinal eléctrico. A Figura 3
mostra um sinal OOK, onde Tb representa a duração temporal de cada
bit.
Figura 3. Sinal OOK-NRZ.
Quando,
como na Figura
3, o impulso que representa o bit "1" tem
uma duração igual ao período de um bit, diz-se que o sinal é do tipo
não-retorno-a-zero (NRZ - Non-Return-to-Zero).
Quando a duração dos impulsos é inferior à duração de um bit, o sinal é do tipo
retorno-a-zero (RZ - Return-to-Zero),
tal como mostra a Figura
4.
Figura 4.
Sinal OOK-RZ.
PAM – Pulse Amplitude Modulation
A
modulação da amplitude do impulso consiste na utilização de impulsos com
amplitudes diferentes para representar símbolos diferentes. Na sua forma mais
simples são utilizados impulsos com duas amplitudes diferentes, o que
correspondo à modulação OOK se uma das amplitudes for nula. Se forem utilizados
impulsos com mais que duas amplitudes diferentes, estamos em presença de
modulação multi-nível. A Figura
5 mostra um exemplo de um sinal modulado em 4-PAM, isto é, onde são
utilizadas 4 amplitudes diferentes para constituir outros tantos símbolos.
Figura 5.
Sinal 4-PAM.
No
exemplo da Figura
5, cada um dos 4 diferentes símbolos representa uma das
4 palavras de 2 bits. Assim, a duração (Ts) de cada impulso (símbolo) é duas
vezes a duração de um bit (Tb). A taxa de transmissão de bits (débito binário)
é duas vezes superior à cadência com que são transmitidos os símbolos (baud rate). De uma maneira geral, o
débito binário está relacionado com o baud
rate da seguinte forma:
débito binário = N × baud rate
onde
N é o número de bits representados
por cada símbolo, ou:
débito binário = log2(M) x baud rate
onde
M é o número de símbolos utilizados.
PPM – Pulse Position Modulation
A
modulação de posição do impulso consiste na divisão do tempo atribuído à
transmissão de um símbolo em M intervalos iguais, sendo a informação
transmitida através da transmissão de um (apenas um) impulso numa dessas M posições.
PPM é também uma técnica de transmissão multi-nível.
A Figura 6 mostra um exemplo de 4-PPM, isto é, um exemplo em que
o tempo de um símbolo é dividido em quatro intervalos iguais. A transmissão de
um impulso em cada uma das 4 posições representa os 4 símbolos diferentes.
Figura 6. Sinal 4-PPM.
Uma
vez que os impulsos transmitidos em cada símbolo têm uma duração temporal menor
que a duração de um bit, a largura de banda ocupada por um sinal PPM é maior
que a largura de banda ocupada por um sinal OOK-NRZ.
Transmissão com portadoras
As
técnicas de transmissão digital com portadoras consistem em fazer variar uma
das características de uma onda sinusoidal ao longo do tempo, de acordo com os
dados a transmitir. Essas características são a amplitude, a frequência e a
fase.
ASK – Amplitude Shift Keying
A técnica
ASK é o parente digital da modulação de amplitude (AM). Num sinal ASK é a
amplitude de uma portadora que varia no tempo de acordo com os bits a
transmitir. Na Figura
7 mostra-se um exemplo de um sinal ASK.
Figura 7. Sinal ASK.
FSK – Frequency Shift Keying
A técnica
FSK é o parente digital da modulação de frequência (FM). Num sinal FSK é a frequência
de uma portadora que varia no tempo de acordo com os bits a transmitir. Na Figura 8 mostra-se um exemplo de um sinal FSK.
Figura 8. Sinal FSK.
PSK – Phase Shift Keying
Na
técnica PSK o sinal transmitido transporta os dados digitais através da variação
temporal da fase de uma portadora de acordo com os bits a transmitir. Na Figura 9 mostra-se um exemplo de um sinal PSK.
Figura 9. Sinal PSK.