

|
Tropa ensina
universitários a dar ordens
Exército e Universidade do
Minho iniciaram cooperação que abre a estrutura militar à sociedade
PAULO F. SILVA
Uma licenciatura, nos dias que correm, já não é meio caminho andado para a obtenção
de um posto de trabalho. A desvalorização do grau académico, que o mercado de emprego
tem vindo a operar, está a reforçar, cada vez mais, a necessidade de formação
complementar. Foi neste quadro que, ontem, em Lamego, quase duas dezenas de estudantes da
Universidade do Minho concluíram o primeiro curso de liderança ministrado por oficiais
da Academia Militar.
Ao cabo de perto de 20 anos de estudo, desde os bancos de escola aos anfiteatros da
universidade, poucos são os licenciados aptos a enfrentar as responsabilidades inerentes
aos cargos que, prioritariamente, poderão ocupar nas empresas. Na esmagadora maioria dos
casos, as capacidades de chefia e de liderança ficam por exercitar no curso da
aprendizagem e sai prejudicada a necessária interligação entre universidades e
empresas.
A constatação não é nova. E o enunciado do problema também não é de resolução
fácil, já que, na sociedade contemporânea, são as estruturas militares as mais
vocacionadas para as questões da liderança e de comando.
Mas, ao contrário do que seria de supor, as forças armadas não estão, neste momento,
voltadas em exclusivo para o seu seio, o que permite o desenvolvimento de acções
concretas e com interesse para ambas as partes.
Universidade/Exército
Isso mesmo aconteceu ao fim da tarde de ontem, no Porto, com a assinatura de um
protocolo de cooperação entre o Estado-Maior do Exército e a Universidade do Minho
(UM), documento que abre portas ao intercâmbio no âmbito da formação complementar de
estudantes das duas instituições, à troca de informações em sede de gestão escolar e
ao desenvolvimento de projectos de investigação.
O protocolo e o programa rubricados pelo general Frutuoso Pires Mateus, em representação
do chefe do Estado Maior do Exército, e por Licínio Pereira, em nome do reitor da
universidade, dão continuidade a um projecto pioneiro desenvolvido desde o começo deste
mês.
Durante três semanas, 20 cadetes da Academia Militar (AM) frequentaram, em Guimarães, um
curso de Sociedade de Informação, da responsabilidade da UM, enquanto um grupo de
universitários ensaiavam idênticos passos num curso de Liderança, sob o comando da AM,
no Centro de Instrução de Operações Especiais do Exército, em Lamego.
"Cada um dá o que tem e pode e, por isso, as duas partes só têm a ganhar", na
opinião do tenente-coronel António Prelhares, oficial da Academia Militar, na prática a
terceira instituição universitária mais antiga do país (fundada em 1641) com créditos
objectivos na área da engenharia militar.
Regras básicas
"Há regras básicas que um bom líder tem de respeitar e a nossa intenção foi
precisamente transmitir aos estudantes universitários essas ferramentas
elementares", explicou, ao "Jornal de Notícias", António Prelhares.
O curso de liderança foi estruturado ao longo de três semanas, cabendo a cada período
ensinamentos e práticas que permitiram aos estudantes treinar as suas capacidades de
chefia, ao mesmo tempo que aprendiam, até, com os seus próprios erros.
Nas décadas de 50 e 60, sobretudo, a liderança era abordada individualmente, para
maximizar as capacidades dos gestores. Hoje em dia, prefere-se a vertente situacional,
quer dizer, determinar a decisão mais eficaz para um problema concreto e objectivo no
mais curto espaço de tempo.
Por isso, os fundamentos da liderança e de geo-estratégia, assim como uma abordagem
técnico-científica das teses existentes no domínio da liderança, foram ministrados na
primeira semana, seguindo-se um período de aprendizagem teórica e prática. A finalizar
o curso, os estudantes realizaram "provas de validação e confirmação",
testes que puseram à prova, nas serras do sistema de Montemuro, as capacidades de
orientação e de orientação estratégica.
Pantera cor-de-rosa sem farda
Luzia é uma das estudantes do curso de Informática de Gestão da Universidade do Minho
que frequentaram, nas últimas três semanas, o Curso de Liderança, em Lamego.
Nas provas finais, que o JN acompanhou parcialmente, cadetes e universitários
distribuiram-se por quatro equipas - "Alpha", "Bravo",
"Charlie" e "Delta" -, uma mistura que os tradicionais fardamentos
militares ajudavam a confundir.
Além dos distintivos nas presilhas das camisas, só o tamanho do cabelo permitia saber
quem era quem.
No caso das raparigas, a dificuldade era ainda maior. Apenas Luzia se distinguia. Foi a
única pessoa que dispensou o equipamento que o Exército colocou à disposição dos
estudantes.
E, ao optar pela sua própria roupa, rapidamente foi "baptizada", por colegas de
curso e cadetes da academia, graças, também, à diferença suscitada pelos tons do seu
"equipamento" (o que não deixa de ser curioso, se se tomar em consideração a
matéria do curso).
E foi assim que, na Várzea da Serra, o JN encontrou a pantera cor-de-rosa... |
|