Prepará-los para a guerra do mercado de trabalho
![]() In: A Capital, 25 de Setembro de 1998 |
Durante
três semanas, os estudantes tiveram aulas de estratégia, orientação e
liderança Experiência-Piloto
na Universidade do Minho: Academia Militar dá Curso de Liderança a Finalistas da Licenciatura de Informática de
Gestão
Há uma
guerra por travar lá fora. E para ganhar as batalhas quotidianas no
mercado de trabalho já não basta ir armado, até aos dentes, de cursos
sobre algoritmos e organigramas. É preciso atitude e capacidade de
liderança. Foi isso que 17 finalistas da licenciatura de Informática de
Gestão da Universidade do Minho foram aprender, durante as últimas três
semanas, no Centro de Instrução de Operações Especiais do Exército,
em Lamego, com professores da Academia Militar. Uma experiência pioneira
em Portugal que vai repetir-se no próximo ano. Ontem, a Universidade do
Minho e a Academia Militar firmaram um protocolo que visa alargar o
intercâmbio entre as duas instituições a um maior número de alunos e a
outros cursos.
Luzia Valentim tem 22 anos
e é natural de Castelo Branco. Tal como os seus 16 colegas da
Universidade do Minho, é finalista da licenciatura de Informática de
Gestão, um curso a meio caminho entre a programação, as redes de
Intranet e a gestão de empresas. Foi no final de Abril, durante as
jornadas de informática na universidade, que Luzia teve conhecimento de
que ia haver um curso de liderança no final do Verão promovido pela
Academia Militar.
Quando se inscreveu no
curso, em Julho passado, Luzia ia motivada, sobretudo, pela curiosidade:
"0 conceito que eu tinha dos militares portugueses era bastante
diferente daquele que eu tenho agora. Pensava simplesmente que eram tipos
duros."
Agora, admite que se
enganou. Os jovens cadetes da Academia Militar são iguais a quaisquer
outros jovens: "São simpáticos. E damo-nos todos bastante
bem." Luzia diz que aprendeu algumas coisas sobre si mesma:
"Descobri alguns defeitos. Que falo demasiado depressa, por
exemplo."
Durante as últimas três
semanas de Setembro, os estudantes da Universidade do Minho receberam de
professores da Academia Militar aulas de estratégia e relações
internacionais, adaptação ao meio ambiente, técnicas de transposição
de obstáculos e orientação. Mas o mais importante foram as aulas sobre
liderança, que incluíram provas práticas de situação. Manuel Prelhaz,
tenente-coronel responsável pelo 2.º batalhão de alunos da Academia
Militar e que coordenou o curso em Lamego, explica que, no fundo, as aulas
de liderança pretenderam ensinar "a tomar decisões e a conseguir
coordenar uma equipa".
"O que fizemos foi
colocar os alunos num ambiente diferente daqueles a que estavam habituados
e obrigá-los a ter de tomar decisões em situações de stress, a ter de
resolver problemas em equipa", esclarece o tenente-coronel Prelhaz. E
acrescenta: "Todos eles foram obrigados a assumir posições de
liderança. A verdade é que demonstraram saber encontrar facilmente as
soluções para os problemas. A dificuldade surgiu ao nível da coordenação
e da decisão." O professor da Academia Militar considera que uma das
vantagens da formação universitária militar reside no facto de se
exigir uma atitude de liderança por parte dos cadetes, o que é reforçado
com muitas situações práticas ao longo do curso.
Mas o tenente-coronel
Prelhaz mostra-se agradado com os seus alunos civis: "A avaliação
é positiva. Em pouco tempo, provaram ter capacidade de liderança.
Afinal, a massa do sangue é a mesma. A juventude universitária civil e
militar andou nos mesmos liceus, tem os mesmos gostos e as mesmas
capacidades."
O acordo entre a
Universidade do Minho e a Academia Militar permitiu também a 20 cadetes
um curso de formação sobre sociedade de informação no departamento de
informática de gestão, no pólo universitário de Guimarães. Durante as
três primeiras semanas de Setembro, os aspirantes a oficiais aprenderam
noções sobre programação e a navegar na Internet.
Para Roberto Pinto da
Costa, estudante de Ciências Militares, especialidade Cavalaria, na
Academia Militar, a passagem pela Universidade do Minho não foi inédita.
Este cadete de 27 anos, antes de optar pela via militar, frequentou o
curso de Matemática Aplicada em Guimarães. "Mas com esta experiência,
aprendi a utilizar a Internet. Fizemos, inclusive, um site para a
Academia, que ainda vai ser avaliado pelo nosso General-Comandante."
Ontem terminaram as provas finais do curso de liderança, com equipas
mistas de estudantes civis e jovens cadetes. As provas, sem carácter de
avaliação, incluíram actividades de rappel, slide, descida de rio e
orientação.
Para ser líder
não é preciso ser durão
A imagem mais óbvia de um
verdadeiro líder passa por ele ser duro, dono de voz autoritária, pouco
ou nada condescendente com os seus subalternos e munido de uma forte
personalidade. Mas este esterótipo clássico não corresponde,
actualmente, a mais do que uma ideia ultrapassada.
"Na década de 50, os
cursos de liderança começaram a estar muito em voga nos Estados Unidos.
Nessa altura, pensava-se que eram os traços de um indivíduo que o
caracterizavam como líder. Tanto o Exército, que desenvolveu estudos
sobre o assunto, como muitas empresas norte-americanas começaram a
investir na formação específica em torno da liderança", explica o
major Videira, professor da Academia Militar.
Ao longo das últimas décadas,
os estudos militares sobre liderança evoluíram. Para trás ficaram os
traços esteriotipados do líder tradicional. "Começou-se a dar mais
relevo ao comportamento em si do indivíduo", diz o major Videira.
"Hoje, podemos falar de um conceito de liderança situacional. Já não
interessa apenas o comportamento do indivíduo mas a relação do seu
comportamento com as situações concretas."
Uma das virtudes de um líder
é, de acordo com o professor da Academia Militar, "saber
rendibilizar as competências dos seus subalternos. Cada vez mais, os
subalternos têm importância. Eles devem emitir as suas opiniões sobre
as situações."
A arte de convencer
O conceito actual de líder
passa pelo papel de um coordenador, um gestor de esforços. Depois, "é
preciso saber decidir. E para isso tem de se ter poder de
convencimento", explica o tenente-coronel Prelhaz, também professor
da Academia Militar.
"Quando cumpre as
decisões do líder, o subalterno deve estar convencido de que está a
fazer o correcto, de que aquela era a decisão que ele tomaria. No fundo,
trata-se de saber trabalhar em equipa", concluiu o tenente-coronel.
Micael Pereira