Exército
e Universidade do Minho iniciaram cooperação que abre a
estrutura militar à sociedade.
Uma licenciatura, nos dias que correm, já não é meio caminho
andado para a obtenção de um posto de trabalho. A desvalorização
do grau académico, que o mercado de emprego tem vindo a operar,
está a reforçar, cada vez mais, a necessidade de formação
complementar. Foi neste quadro que, ontem, em Lamego, quase duas
dezenas de estudantes da Universidade do Minho concluíram o
primeiro curso de liderança ministrado por oficiais da Academia
Militar.
Ao cabo de perto de 20 anos de estudo, desde os bancos de escola
aos anfiteatros da universidade, poucos são os licenciados
aptos a enfrentar as responsabilidades inerentes aos cargos que,
prioritariamente, poderão ocupar nas empresas. Na esmagadora
maioria dos casos, as capacidades de chefia e de liderança
ficam por exercitar no curso da aprendizagem e sai prejudicada a
necessária interligação entre universidades e empresas.
A constatação não é nova. E o enunciado do problema também
não é de resolução fácil, já que, na sociedade contemporânea,
são as estruturas militares as mais vocacionadas para as questões
da liderança e de comando.
Mas, ao contrário do que seria de supor, as forças armadas não
estão, neste momento, voltadas em exclusivo para o seu seio, o
que permite o desenvolvimento de acções concretas e com
interesse para ambas as partes.
Universidade/Exército Isso mesmo aconteceu ao fim da tarde de ontem, no Porto, com
a assinatura de um protocolo de cooperação entre o
Estado-Maior do Exército e a Universidade do Minho (UM),
documento que abre portas ao intercâmbio no âmbito da formação
complementar de estudantes das duas instituições, à troca de
informações em sede de gestão escolar e ao desenvolvimento de
projectos de investigação.
O protocolo e o programa rubricados pelo general Frutuoso Pires
Mateus, em representação do chefe do Estado Maior do Exército,
e por Licínio Pereira, em nome do reitor da universidade, dão
continuidade a um projecto pioneiro desenvolvido desde o começo
deste mês.
Durante três semanas, 20 cadetes da Academia Militar (AM)
frequentaram, em Guimarães, um curso de Sociedade de Informação,
da responsabilidade da UM, enquanto um grupo de universitários
ensaiavam idênticos passos num curso de Liderança, sob o
comando da AM, no Centro de Instrução de Operações Especiais
do Exército, em Lamego.
"Cada um dá o que tem e pode e, por isso, as duas partes só
têm a ganhar", na opinião do tenente-coronel António
Prelhares, oficial da Academia Militar, na prática a terceira
instituição universitária mais antiga do país (fundada em
1641) com créditos objectivos na área da engenharia militar.
Regras básicas "Há regras básicas que um bom líder tem de respeitar
e a nossa intenção foi precisamente transmitir aos estudantes
universitários essas ferramentas elementares", explicou,
ao "Jornal de Notícias", António Prelhares.
O curso de liderança foi estruturado ao longo de três semanas,
cabendo a cada período ensinamentos e práticas que permitiram
aos estudantes treinar as suas capacidades de chefia, ao mesmo
tempo que aprendiam, até, com os seus próprios erros.
Nas décadas de 50 e 60, sobretudo, a liderança era abordada
individualmente, para maximizar as capacidades dos gestores.
Hoje em dia, prefere-se a vertente situacional, quer dizer,
determinar a decisão mais eficaz para um problema concreto e
objectivo no mais curto espaço de tempo.
Por isso, os fundamentos da liderança e de geo-estratégia,
assim como uma abordagem técnico-científica das teses
existentes no domínio da liderança, foram ministrados na
primeira semana, seguindo-se um período de aprendizagem teórica
e prática. A finalizar o curso, os estudantes realizaram
"provas de validação e confirmação", testes que
puseram à prova, nas serras do sistema de Montemuro, as
capacidades de orientação e de orientação estratégica.
Pantera cor-de-rosa sem farda
Luzia é uma das estudantes do curso de Informática de Gestão
da Universidade do Minho que frequentaram, nas últimas três
semanas, o Curso de Liderança, em Lamego.
Nas provas finais, que o JN acompanhou parcialmente, cadetes e
universitários distribuiram-se por quatro equipas -
"Alpha", "Bravo", "Charlie" e
"Delta" -, uma mistura que os tradicionais fardamentos
militares ajudavam a confundir.
Além dos distintivos nas presilhas das camisas, só o tamanho
do cabelo permitia saber quem era quem.
No caso das raparigas, a dificuldade era ainda maior. Apenas
Luzia se distinguia. Foi a única pessoa que dispensou o
equipamento que o Exército colocou à disposição dos
estudantes.
E, ao optar pela sua própria roupa, rapidamente foi
"baptizada", por colegas de curso e cadetes da
academia, graças, também, à diferença suscitada pelos tons
do seu "equipamento" (o que não deixa de ser curioso,
se se tomar em consideração a matéria do curso).
E foi assim que, na Várzea da Serra, o JN encontrou a pantera
cor-de-rosa...